Categoria: coisa meio conto
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Mato
Conseguiu assento no ônibus que ia pra universidade. Assento daquele no alto, o preferido por sua memória afetiva de infância e pela memória odiosa do lugar mais baixo, o acessível para cotovelos e paus. Riu da piranha que tirava da bolsa mudando de cor à luz do sol, abriu os dentes e pregou no coque…
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Moela de Frango
Era divino ver vovó lapidar o formato fofo, cheio de penas e sangue, até imitar a figura dos supermercados, que ficavam depois da estrada de terra e mais um pouco de asfalto. A escultura saía impecável, num amarelo esbranquiçado, a caminho do dourado. Isso depois de vovô ter escolhido o método: com faca ou torção…
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O braço cheio de tinta
Ou: Um Conto de Preguiça Este braço aqui, que eu não sei como chegou ou se eu que cheguei. Não lembro como veio ou vim parar aqui. Mas chamo aqui de “lá em casa” quando eu saio e quando volto, volto para o braço que me acena e nunca exige alimento. Não tive coragem, até…
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o desborde
Depois dos três meses de estiagem e seca, a chuva derretia os rejeitos de óleo deixados pelos carros no asfalto, formando uma película furta-cor na rua em que Gleide dava seus passos cuidadosos até o ponto de ônibus. Depois de todo o tempo de secura e atrito seguro dos pés com o chão, ela agora…
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meia maternidade e um pai inteiro
Como se olha para uma mulher que não conhece a possibilidade de apropriar-se de si?