Sobre


Sou Juliana

há muito tempo me ocorre com enorme frequência o nervosismo de me apresentar para as pessoas. como uma G.H. organizada, pretendo dar forma a uma escultura escrevendo a ficção da minha vida, como fazemos sempre ao nos apresentar pela primeira vez a uma pessoa desconhecida. minhas palavras se querem certeiras, se obrigam a não entediar quem ouve, a não se confundir; elas se querem flechas ou lanças ou facas.

minha ficção se quer precisa, bem apresentada, afiada. a minha estória, a ser contada em uma conversa pequena, numa frase simples que deve conter somente minha profissão, deve ser representativa de um sucesso profissional, de uma carreira impressionante, de uma participação importante na sociedade: minha ficção precisa de um herói. herói. me apresentar é redigir a sinopse que captura, bem direcionada a um público-alvo e tem de pegar a presa e fazê-la se prender sem desvios.

uma outra regra do gênero diz que, em seu corte de ar, a flecha deixa um passado monólito pelo caminho. esse passado não é jamais revisitado, a flecha segue apenas adiante e vê todo o tempo como um monumento rígido e imutável. assim se querem minhas palavras e assim continuo em angústia por não conseguir fazê-las viajar pelo ar num rumo pontiagudo. é que sou alguém do porvir, do que será gerado e parido, do que nascerá.

Enquanto a cultura foi explicada como originária de e elaborada a partir do uso desses objetos longos e duros utilizados para espetar, bater e matar, eu nunca pensei que tivesse, ou quisesse ter qualquer parte nela. (“O que Freud tomou erroneamente como a falta de civilização da mulher é, na verdade, sua falta de lealdade à civilização”, observou Lillian Smith). A sociedade, a civilização de que estes teóricos estavam falando, era evidentemente a deles; eles a possuíam, a adoravam; eles eram humanos, inteiramente humanos, batendo, espetando, forçando, matando. Querendo ser humana também, procurei evidências de que o era; mas se isso significava fazer uma arma e usá-la para matar, então evidentemente eu era extremamente imperfeita como ser humano, ou não era sequer humana. (Le Guin, p.20)

nesse caminho, com todo esse querer forçado, esse querer que não é meu, fui criando dentro de mim um enorme pavor em me apresentar. seja para compor mini bio (ou big bio), seja para falar, durante um aperto de mãos e um protocolar “prazer”, quem eu sou. fico sentindo que vou decepcionar por não ter alcançado títulos ou por não ter provado meus talentos diante de alguma conquista monumental.

mas a verdade é que narrar é algo que todo mundo pode fazer, inclusive narrar a si mesme. se minha narrativa não é a de um alcance pontiagudo, não atinge em cheio um alvo (que cansei de tentar descobrir onde fica), então minha narrativa é da coleta e da curiosidade. trago em minha bolsa, junto comigo, todo o meu passado e o altero como me apetece. muito do que já fiz não me determina, mas minha curiosidade garante ao menos uma coisa sobre mim: tenho sempre algo guardado e pronto para virar uma coisa nova. estou o tempo todo disposta a tirar do meu acervo qualquer coisa que possa conhecer a curiosidade de quem me encontrar por aí.

A ficção, baseada em fatos reais

nasci em 1992 em Goiânia, mas me criei em Palmas, cidade onde tive meus primeiros contatos com teatro, artes visuais e produção cultural, entre infância e adolescência. foi lá em Palmas que também tive minha primeira experiência de exposição de arte, na galeria do Espaço Cultural José Gomes Sobrinho. nessa exposição, desenvolvi uma instalação que se perdeu, não há registros e em material; mas se você me perguntar, sou capaz de descrever toda a obra.

o teatro foi minha base formativa de vida: entre minha primeira aulinha de teatro e a última vez que respirei a presença de um grupo existem quase 20 anos de uma pessoa se fazendo e aprendendo a se reconhecer no mundo. talvez tenha sido o texto dramatúrgico minha formação para a escrita.

comecei cedo a me articular com o mundo da literatura, produzindo poesia e prosa em blogs e sites. na verdade, antes disso, vivi o clichê de escrever nas paredes do quarto, no canto do caderno da escola e cartas para alguém ou, muitas vezes, ninguém. depois de um tempo, passei a publicar em veículos digitais e impressos da literatura independente de todo o Brasil e lancei, em 2025, meu primeiro livro de poesias. sou uma das editoras da Revista Mormaço, que publica trimestralmente contribuições de importantes nomes da literatura contemporânea.

entre um passo e outro desses, reconheci Salvador como lar e cá estou há 8 anos. foi por aqui que realizei (realizamos) meu primeiro filme, o curta-metragem documentário Beldade, lançado no Cachoeira.Doc em 2021. foi também esta cidade que me ensinou a praticar mais coragens para aprimorar ferramentas em respeito aos meus talentos. assim, assumi meu desejo pelas artes visuais.

passei a experimentar com as possibilidades do desenho, da pintura e dos materiais têxteis. ofereci oficinas de bordado, expus quatro desenhos por meio da atividade lab_desenho, no Museu de Arte Moderna da Bahia. o livro que lancei também conta com minhas próprias ilustrações.

em meio a todos esses movimentos, fiz minha primeira viagem internacional em 2025, para os Estados Unidos, por um período de 6 meses. nesse tempo, fiz parte de uma residência artística para a criação de uma nova série de contos em língua inglesa. além disso, ingressei em um grupo de artistas e cientistas que se juntaram para experimentar a simbiose entre arte e produção científica.

escrevendo esta apresentação sem muita vontade, também não sei como terminá-la. queria mesmo somente fazer coisas, ouvir e partilhar possibilidades com outras pessoas, mas preciso ter site e redes sociais para conseguir colocar tudo em movimento; é a vida. Então, para acompanhar de perto o que ando fazendo e conversar comigo, veja o que fazer:

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